O ozônio como desinfetante contra vírus e bactérias é conhecido pela sua eficácia a mais de 100 anos e o seu uso na indústria de alimentos vem tomando força a cada ano que passa.

Leia a seguir um artigo escrito  Luis Fernando Ribeiro de Mattos, Engenheiro Agrônomo com Mestrado em Biotecnologia Industrial na Bélgica. CREA 36599 para o site da empresa Max Consulting que atua no Nordeste do Brasil.

Sobre o uso do gás ozônio como desinfetante contra vírus em empresas de alimentos

Por mais de 100 anos, o ozônio, considerado um matador de vírus na natureza, tem sido amplamente utilizado por pessoas para desinfecção, esterilização, desodorização, desintoxicação, armazenamento e branqueamento, graças ao seu forte poder oxidativo (Nota 1) e, por isso, o ozônio pode ser adotado como arma na luta global contra vírus.

O gás ozônio possui 4 atributos a seguir:

a) Eficácia para destruir vírus

James B. Hudson (Nota 2) diz que todos os 12 vírus testados, em diferentes superfícies duras e porosas e na presença de fluidos biológicos, poderiam ser inativados por pelo menos 3 log10, em laboratório e em testes de campo simulados.

Vários pesquisadores relataram (Nota 3) que o ozônio inativa vírus envelopados e não envelopados em água (Bolton et al. 1982; Roy et al. 1982; Akey e Walton 1985). O ozônio foi eficaz contra o bacteriófago f2 (Kim et al. 1980), espécies virais envolvidas (incluindo vesicular espécies virais de estomatite, vírus influenza A (cepa WSN), vírus infeccioso da rinotraqueite bovina) e vírus não-envelopados (incluindo poliomielite tipo I e vírus da hepatite infecciosa canina) (Bolton et al. 1982). Pesquisas indicaram que vírus envelopados eram mais suscetíveis ao ozônio inativação do que aqueles sem envelopes lipídicos (Bolton et al. 1982). Hall e Sobsey (1993) determinou que o vírus da hepatite A foi inativado em 5 segundos com dose de 0,4 ppm de ozônio.

Podemos citar também o trabalho científico de Kowalski et al (Nota 3) onde concluíram que o gás ozônio poderia remover 99,99% de bactérias transportadas pelo ar.

De acordo com os resultados do experimento sobre como o ozônio mata o vírus da SARS, conduzido pelo laboratório nacional P3 (Nota 1), liderado pelo professor Li Zelin, da Universidade de Santa Barbara, na  California (Nota 4),  o ozônio é eficaz para matar o vírus da SARS inoculado nas células renais de macacos, atingindo uma taxa de morte de 99,22%.

Outro trabalho conduzido por Kim et Al em 1999 publicado no Journal of Food Protection, volume 62 apresenta a seguinte tabela (Nota 5):

Enfim, ao consultar os artigos científicos publicados no Google Acadêmico podemos encontrar mais de 40.000 artigos sobre ozônio e vírus no ambiente.

  1. b) Cobertura total. O ozônio criado por geradores de ozônio ou purificadores de ar eletrostáticos pode atingir todos os cantos do ambiente, o que pode superar o problema de que a esterilização ultravioleta só pode subir e descer, deixando alguns lugares não esterilizados.
  2. c) Ausência de resíduos. O ozônio (O3) é uma molécula instável e retorna, alguns minutos após a sua geração, para a sua forma estável que é o oxigênio (O2), sendo que o ar normalmente já possui 19% de O2.
  3. d) Conveniência. O ozônio pode ser produzido por equipamentos simples, portáveis e de baixo custo, podendo ser usado em áreas de produção e armazenamento de alimentos em fábricas, bem como em supermercados, açougues, padarias ou qualquer outro lugar.

Qual a concentração e tempo de aplicação do gás ozônio para destruir vírus?

Segundo os trabalhos do Dr. Kenneth K. K. LAM (Nota 6) a concentração de 50 ppm de ozônio por 15 minutos são suficientes para a efetiva desinfecção do ambiente.

Cuidados especiais

O gás ozônio não deve ser respirado por seres humanos a concentrações elevadas. A concentração segura, segundo a legislação brasileira NR 15 de 1978 é de até 0,08 ppm para ser respirada por seres humanos por até 48 h semanais. Por isso é fundamental deixar o ambiente totalmente desabitado por humanos, animais e plantas durante a aplicação e por 3 horas após desligar o gerador de ozônio. Além disso, se aplicado em concentrações excessivas pode oxidar diversos metais. E por fim, apesar de não deixar resíduos, se o ozônio for aplicado em ambientes em que o alimento está exposto, poderá alterar as características organolépticas de alguns deles. Existem mais de 600.000 artigos acadêmicos sobre o uso do ozônio em alimentos.

É recomendável a aplicação do ozônio por especialista treinado nos equipamentos e no assunto.

Nota 1: Ver em www.china.org.cn/opinion/2020-02/26/content_75747237_4.htm

Nota 2: James B. Hudson, Manju Sharma & Selvarani Vimalanathan (2009) Development of a Practical Method for Using Ozone Gas as a Virus Decontaminating Agent, Ozone: Science & Engineering, 31:3, 216-223, DOI: 10.1080/01919510902747969

Nota 3: Consultar o artigo de W. J. Kowalski, W. P. Bahnfleth, and T. S. Whittam, Ozone Sci. & Eng., 20, 205-221 (1998). Nota 4: ver o perfil do Professor LLi Zelin em  https://www.researchgate.net/profile/Zelin_Li12

Nota 5: Application of Ozone for Enhancing the Microbiological Safety and Quality of Foods: A Review JIN-GAB KIM; AHMED E. YOUSEF; SANDHYA DAVE J Food Prot (1999) 62 (9): 1071–1087.

Nota 6: Consultar o artigo em https://patents.google.com/patent/CA2602230A1/en